sexta-feira, 1 de junho de 2012

O bom consumidor e o mau cidadão

... uma reflexão para nos fazer pensar...

As contradições do nosso tempo

Embrenhados no hiperconsumo e no hiperindividualismo, queremos o melhor para os outros desde que não nos privem de qualquer das regalias de que temos vindo a usufruir: queremos tudo e imediatamente; queremos os 4x4 e a proteção da camada de ozono; somos contra as deslocalizações mas queremos os preços mais baixos de tudo; somos defensores dos hipermercados e do comércio tradicional... A nossa moral não consegue conciliar os extremos, mas nós temos essa veleidade. Sim, é tal a nossa preocupação de ter acesso ao consumo infrene que nem nos questionamos sobre a má cidadania em que vivemos.

“Le bon consommateur et le mauvais citoyen” é a mais recente obra do conceituado sociólogo Robert Rochefort e merece ser analisada na perspetiva das contradições éticas do nosso modo de vida (Odile Jacob, 2007). O consumidor procura ser astucioso desvalorizando a sua cidadania. Vejamos como.
Em 30 anos, passámos brutalmente de uma sociedade de produção para uma sociedade de consumo, agora produz-se só a pensar no que se consome, o marketing triunfante é aquele que escuta o cliente e o satisfaz prontamente. No entanto, nós sabemos que existe o comércio justo, uma outra agricultura fora da industrialização, sabemos que o esbanjamento é um dano ambiental e que as lojas dos chineses são sinónimo da nossa perda de competitividade. É a moral do indivíduo que triunfa, ninguém se sente culpado pelos prazeres do consumo hedonista que estão a levar à fragmentação social. Consumimos em função do nosso eu e do nosso íntimo, e se o mundo está mercantilizado é porque as nossas vidas são uma sequência de operações mercantis. Parece que a cidadania tem que ficar exclusivamente não mãos dos políticos, deverão ser eles a resolver os nosso problemas de habitação, de emprego, espaços verdes, solidariedades. Somos bons cidadãos porque pautamos os nosso hábitos pelo pragmatismo e oportunismo. Por exemplo, ninguém se preocupa em considerar matérias de ensino obrigatórias o saber comprar, poupar, pedir crédito, saber ler um contrato de um telemóvel, como se o ensino fosse o território privilegiado do saber falar, escrever, contar e raciocinar. Ora ser cidadão é conhecer os compromissos da generosidade, isto enquanto o consumo é constituído pelas coisas se pagam e se comercializam. A cidadania exige comportamentos que ultrapassam a satisfação instantânea com a compra de bens e serviços. Na atmosfera de sedução em que vivemos mergulhados, é natural a facilidade de consumir, tudo se comunica e se expõe para ter acesso pronto, o crédito lubrifica e exacerba os impulsos, mesmos os mais controlados. Consumir é viver centrado sobre si, o oposto da cidadania.
Texto de Mário Beja Santos
http://dolceta.eu/portugal/Mod4/O-bom-consumidor-e-o-mau-cidadao-I.html




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